16/03/2022
Copom eleva juros básicos da economia para 11,75% ao ano, o maior nível desde abril de 2017
BRASÍLIA, DF - Em meio aos impactos da guerra na Ucrânia
sobre a economia global, o Banco Central (BC) continuou a apertar os cintos na
política monetária. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom)
elevou a taxa Selic, juros básicos da economia, de 10,75% para 11,75% ao ano. A
decisão era esperada pelos analistas financeiros. Em comunicado, o BC informou que o momento atual exige
cautela. O Copom indicou que a próxima elevação também será de 1 ponto
percentual, mas que pode rever o ritmo do aperto monetário caso necessário.
“Para a próxima reunião, o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O
Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser
ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, destacou
o texto. Apesar de a taxa ter sido decidida por unanimidade, o
resultado foi publicado com cerca de 40 minutos de atraso. Isso ocorreu porque
o Copom terminou pouco depois das 19h. Geralmente, as reuniões terminam no meio
da tarde, e o resultado é divulgado a partir das 18h30. Aperto monetário A taxa está no maior nível desde abril de 2017, quando
estava em 12,25% ao ano. Esse foi o nono reajuste consecutivo na taxa Selic.
Apesar da alta, o BC reduziu o ritmo do aperto monetário. Depois de três
aumentos seguidos de 1,5 ponto percentual, a taxa foi elevada em 1 ponto. De março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a
taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC
passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a decisão de hoje (16), a Selic continua num ciclo de
alta, depois de passar seis anos em ser elevada. De julho de 2015 a outubro de
2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a
reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em
março de 2018. A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2%
ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela
pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em
1986. Inflação A Selic é o principal instrumento do Banco Central para
manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o indicador fechou em 10,54% no
acumulado de 12 meses, no maior nível para o mês desde 2015, pressionado pelos
combustíveis e pelos aumentos de início de ano nas despesas de educação. O valor está acima do teto da meta de inflação. Para 2022, o
Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,5%, com margem de
tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não pode superar 5% neste
ano nem ficar abaixo de 2%. No Relatório de Inflação divulgado no fim de dezembro pelo
Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fechará
2022 em 4,7% no cenário base. A projeção, no entanto, está desatualizada com as
tensões internacionais que elevam a cotação do petróleo e com fatores
climáticos que prejudicam as safras em diversas partes do Brasil. A nova versão
do relatório será divulgada no fim deste mês. As previsões do mercado estão mais pessimistas. De acordo
com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada
pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 5,38%. A projeção foi
elevada após o aumento recente dos combustíveis. Crédito mais caro A elevação da taxa Selic ajuda a controlar a inflação. Isso
porque juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo.
Por outro lado, taxas mais altas dificultam a recuperação da economia. No
último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 1% para
a economia em 2022. O mercado projeta crescimento um pouco maior. Segundo a
última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de
apenas 0,49% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos
pelo país) neste ano. A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos
públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de
referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima,
o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque
juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e
incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para
cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços
estão sob controle e não correm risco de subir. Agência Brasil, com foto: Marcello Casal Jr
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