15/03/2022
Contas de luz terão nova taxa em 2023 para cobrir rombo de R$ 10,5 bilhões no setor energético
BRASÍLIA, DF - A Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel) decidiu nesta terça-feira (15) que o novo empréstimo ao setor elétrico
para cobrir os custos da crise energética do ano passado será de até R$ 10,5 bilhões,
dividido em duas partes. O dinheiro será levantado junto a bancos públicos e
privados. O financiamento, com cobrança de juros, será pago pelos consumidores
de energia através de um novo encargo aplicado à conta de luz a partir de 2023
(leia mais abaixo). A primeira parte do empréstimo foi regulamentada nesta terça
e será de até R$ 5,3 bilhões, à vista. O valor deverá cobrir: - o saldo negativo das bandeiras tarifárias que não
arrecadaram o suficiente (R$ 540 milhões); - o custo do bônus pago aos consumidores que economizaram
energia no fim do ano passado (R$ 1,68 bilhão), - a postergação de cobranças pelas distribuidoras (R$ 2,33
bilhões); e - a importação de energia, entre julho e agosto do ano
passado (R$ 790 milhões). Já a segunda parte – estimada, até o momento, em outros R$
5,2 bilhões – será para cobrir parte do custo da contratação emergencial de
energia, realizada em leilão simplificado no ano passado e com período de
fornecimento a partir de 1º de maio deste ano. A segunda parte do empréstimo, porém, ainda será avaliada
pela agência e passará por consulta pública. Não há previsão de quando isso
ocorrerá. Consumidor paga O prazo total do financiamento e a taxa de juros ainda serão
definidos junto aos bancos que vão emprestar o dinheiro. A previsão da Aneel é
que a operação saia até a primeira quinzena de abril. O prazo total do
financiamento será de 54 meses. O financiamento será direcionado às distribuidoras de
energia porque elas são consideradas o "caixa" do setor elétrico, ou
seja, arrecadam os valores junto aos consumidores através da conta de luz e
pagam os geradores e transmissores de energia. Uma medida provisória e um decreto editados pelo governo
deram suporte legal ao novo empréstimo ao setor elétrico. Somente a
regulamentação ficou a cargo da Aneel. O objetivo do governo com o empréstimo é diluir ao longo do
tempo o custo ainda não pago da crise energética de 2021. Na prática, o empréstimo dilui o pagamento dos custo
adicional gerado pela escassez hídrica do ano passado, ou seja, evita que a
cobrança se concentre nas contas de luz em 2022, nos reajustes tarifários
anuais das distribuidoras. Apesar de permitir o parcelamento desse custo a partir de
2023, o empréstimo implica na cobrança de juros, o que significa que, ao final
do empréstimo, os consumidores terão pago um valor mais alto. Equilíbrio A medida também visa garantir o equilíbrio
econômico-financeiro das distribuidoras de energia, que alegam "carregar
os custos" das medidas adicionais adotadas durante a situação de escassez
hídrica. "Os custos para enfrentamento da crise hídrica
aumentaram significativamente no segundo semestre [de 2021], abrindo um fosso
entre as despesas que as distribuidoras tinham para enfrentamento dessa crise e
a cobertura tarifária, mesmo com a bandeira tarifária", afirmou Ricardo
Brandão, diretor regulatório da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia
Elétrica (Abradee). Segundo Brandão, a medida é importante tanto para as
distribuidoras quanto para os consumidores. "Não é desejável que se tenha uma volatilidade tão
grande da tarifa, então um programa como esse, que suaviza essa curva, é benéfico
tanto para as distribuidoras quanto para os consumidores." Outros empréstimos Em 2014, o governo Dilma Rousseff também recorreu ao
mecanismo de emprestar dinheiro ao setor elétrico para segurar o reajuste
imediato na conta de luz. O empréstimo foi de R$ 34 bilhões, operação que ficou
conhecida como “Conta-ACR”, encargo que também foi cobrado dos consumidores na
conta de luz. Dos R$ 34 bilhões, R$ 12,8 bilhões foram juros pagos aos bancos. Já em 2020, um novo empréstimo foi feito para socorrer o
setor elétrico dos efeitos da pandemia de Covid-19. Cerca de 60 distribuidoras
aderiram ao financiamento, que totalizou R$ 14,8 bilhões. O valor está sendo pago pelos consumidores, através de um
encargo embutido na conta de luz. As parcelas da chamada "Conta
Covid" serão cobradas mensalmente até dezembro de 2025. A taxa de juros
total da operação foi de 3,79% + CDI (Certificado de Depósito Interbancário,
que acompanha a taxa Selic). O coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Anton Schwyter, critica os
sucessivos empréstimos ao setor. “O fato é que esses empréstimos não resolvem problemas
estruturais e conjunturais, pelo contrário, eles contribuem para ampliação dos
custos finais aos consumidores devido à incidência de juros”, diz Schwyter. O diretor da Aneel Efrain Cruz, relator do processo que
trata do novo empréstimo, afirmou que a medida foi a "possível".
"Talvez não seja a solução 100% do setor elétrico, mas
é o que temos para o momento. É uma estruturação de uma conta que ainda o
Brasil vai experimentar tarifas elevadas, mas foi o mecanismo possível",
afirmou. g1, com foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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