07/01/2022
Bolsonaro ataca vacinação e questiona honestidade da Anvisa; comunidade médica repudia
BRASÍLIA, DF - O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar,
nesta quinta-feira (6), a vacinação infantil contra Covid. Em uma entrevista à
TV Nova Nordeste, Bolsonaro minimizou o número de mortes por Covid nessa faixa
etária. Disse que não conhece nenhum caso. É uma desinformação, porque o próprio Ministério da Saúde do
governo dele contabiliza 308 mortes de crianças de 5 a 11 anos desde o início
da pandemia. Bolsonaro também duvidou da honestidade da Anvisa por ter
aprovado a vacinação infantil contra Covid e chamou quem defende a imunização
de "tarados por vacinas". As cenas foram publicadas nas redes sociais
do presidente. “Eu pergunto: você tem conhecimento de uma criança de 5 a 11
anos que tenha morrido de Covid? Eu não tenho. Na minha frente tem umas dez
pessoas aqui, se alguém tem levante o braço. Ninguém levantou o braço na minha
frente. Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem, por si só, uma
vez pegando o vírus a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está
por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse
daquelas pessoas taradas por vacina?”, diz Jair Bolsonaro. Na entrevista, Bolsonaro também se referiu a efeitos
adversos raríssimos, mas não mencionou que todas as bulas de todos os remédios
e vacinas que existem no mundo contêm a descrição de efeitos colaterais muito
raros. Além da Anvisa, as agências dos Estados Unidos e da União
Europeia aprovaram a vacinação de crianças com o imunizante da Pfizer. São
autoridades sanitárias de excelência reconhecida internacionalmente. No Brasil, epidemiologistas afirmam que, embora a Covid seja
mais perigosa para adultos, nenhuma doença para a qual exista vacina mata mais
crianças do que a Covid. Foi o que a Sociedade Brasileira de Pediatria atestou
durante a consulta pública sobre vacinação infantil aberta pelo governo. “Trouxe a vocês uma comparação do que representa a Covid-19
em crianças perto de outras doenças passíveis de prevenção por vacinas. Vejam
que nenhuma dessas doenças, todas elas passíveis de prevenção por vacinas,
vitimaram tantas crianças como a Covid-19”, afirmou Marco Aurélio Palazzi
Sáfadi, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Os números são assustadores. Estamos falando de 2 mil e 500
óbitos na população abaixo de 19 anos e em torno de 300 óbitos na população
entre 5 e 11 anos. Nenhuma doença imunoprevenível hoje, que está no calendário
de imunização, matou esse número de pessoas. Então, a gente não pode banalizar
as mortes por Covid. Nós poderemos proteger um maior número de crianças e
evitar que novos óbitos aconteçam”, explicou Carla Dominguez, ex-coordenadoras
do Programa Nacional de Imunizações. A Sociedade Brasileira de Pediatria repudiou publicamente a
declaração de Bolsonaro. Em uma nota, a entidade afirma que o Brasil deve temer
a doença, nunca o remédio; que a vacina previne dor, morte, emergências e
internações em todas as faixas etárias. Os pediatras brasileiros declaram, ainda, que a vacinação de
crianças é estratégia importante para reduzir o número de mortes no Brasil, que
tem indicadores mais expressivos que outros países. A Sociedade Brasileira de Pediatria ressaltou que estudos
atestam a eficácia e a segurança da vacina anti-Covid para as crianças.
O Jornal Nacional pediu ao Palácio do Planalto que se
pronunciasse a respeito das críticas veementes dos médicos às declarações do
presidente Jair Bolsonaro, mas não recebemos nenhuma resposta. g1, com foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
|