25/12/2021
Inflação alta ampliou pobreza no Brasil; mercado prevê “estouro da meta” pelo 2º ano consecutivo
SÃO PAULO, SP - Em 2021, a inflação voltou a pesar no bolso
dos brasileiros — e na economia. O aumento generalizado de preços foi resultado
de uma combinação de fatores negativos: alta do dólar, valorização global do
petróleo e seca, que levou a uma quebra de safras no campo e ao aumento dos
preços de energia. Nos 12 meses até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) atingiu 10,74%. No mês, chegou a 0,95% — a maior taxa para
novembro desde 2015. Para 2022, o mercado financeiro prevê uma inflação acima
de 5% e o estouro da meta pelo segundo ano seguido. "Se a gente somar a participação de todos os energéticos
[elétrica e derivados], encontramos quase 50% do resultado geral do IPCA",
analisou o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Na prática, a inflação implicou na queda do poder de compra
da população, em reajustes salariais sem ganho real e no aumento da pobreza no
país. Com isso, muitos brasileiros tiveram dificuldades para adquirir itens
essenciais da cesta básica, como arroz, feijão e carne, o famoso prato feito. Confira abaixo os
principais responsáveis pela inflação deste ano: Alimentos Após ter disparado 14% em 2020, o preço dos alimentos
continuou em alta este ano e subiu mais 7% entre janeiro e novembro, segundo o
IBGE. No campo, problemas climáticos contribuíram com a elevação
dos preços, como a seca prolongada e as geadas, que prejudicaram colheitas
importantes no país. "O choque dos preços dos alimentos foi o mais
emblemático deste ano. A Ana Maria Braga voltou a usar o colar de tomates [para
discutir a alta de preços em fevereiro] e o país enfrentou uma disparada no
valor das carnes", disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa
Investimentos. Além disso, a menor oferta de bovinos pressionou os preços
da carne — fazendo com que o alimento se tornasse uma especiaria no prato da
maioria dos brasileiros e, em casos extremos, levassem pessoas a buscar ossos
descartados por frigoríficos. Alguns supermercados chegaram a vender a proteína
animal com alarme antifurto. Alguns dos alimentos que tiveram mais alta de preço em 2021
foram frango, ovos, carne bovina, açúcar, café e tomate. O óleo de soja, por
sua vez, que dobrou de preço em 2020, desacelerou a alta. Em novembro, o grupo "Alimentação e bebidas"
registrou deflação (-0,04%). Segundo o IBGE, o resultado se deve ao custo da
alimentação fora do domicílio (-0,25%). As quedas mais relevantes foram nos
preços do leite longa vida (-4,83%), do arroz (-3,58%) e das carnes (-1,38% no
mês, mas com avanço de 6,98% no ano). Por outro lado, houve aumentos em novembro nos preços da
cebola (16,34%), café moído (6,87%), açúcar refinado (3,23%), frango em pedaços
(2,24%) e queijo (1,39%). Câmbio A valorização do dólar frente ao real encareceu os produtos
importados que chegaram ao Brasil, como combustíveis, bens duráveis e boa parte
dos componentes fundamentais para a indústria, por exemplo. As exportações também se tornaram mais lucrativas e atraíram
os produtores nacionais, que preferiram exportar os alimentos produzidos aqui
do que vender para o mercado interno. Neste caso, vale a lei da oferta e da
procura: se faltam produtos e sobra demanda, o preço sobe. É por este motivo que o Brasil vive um período de alta
inflação e baixa atividade econômica ao mesmo tempo, explicou André Braz, da
FGV: "A demanda aumentou fora do Brasil, fazendo com que os preços
subissem por aqui também". Até o último dia 21, a moeda norte-americana acumulava
valorização de 10,63% frente ao real desde o início do ano. Energia elétrica Um dos motivos para a disparada da inflação neste ano foi a
crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, resultado de um baixo volume de
chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por
70% da geração de energia no país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) foi obrigado a
acionar as usinas termelétricas para garantir o fornecimento de energia neste
ano. As térmicas, porém, são mais poluentes e caras, o que elevou o custo de
geração de energia em 2021, repassado aos consumidores por meio das bandeiras
tarifárias. A última bandeira foi definida em agosto: a "tarifária
escassez hídrica", que adiciona R$ 14,20 às faturas para cada 100 kW/h
consumidos. Ela vale até hoje no Brasil, com exceção das famílias de baixa
renda. Em novembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
informou que a conta de luz dos consumidores incluídos na Tarifa Social de
Energia Elétrica passaria a ter bandeira tarifária verde — a mais barata. No IPCA de novembro, custos com habitação foram novamente
pressionados pela energia elétrica (1,24%). Os gastos das famílias neste
segmento acumularam uma alta de 31,87% nos últimos 12 meses. Combustíveis Os principais vilões da inflação de 2021 foram os
combustíveis, por conta da alta do dólar e maior demanda global por petróleo. E
se engana quem acredita que não foi afetado porque não tem carro: a alta da
commodity afeta diretamente o setor de transportes e logística — influenciando
os custos de praticamente todos os setores da economia. O barril está supervalorizado, em grande parte, porque
quando a pandemia começou, no início de 2020, os países que mais exportam
petróleo reduziram a produção. Na época, diminuir a oferta foi uma forma de
evitar que o preço do barril caísse muito. Este ano, com a retomada das
atividades, a procura aumentou, mas a produção ainda não. O que tem para
comprar ficou mais caro e em dólar, explicaram os economistas.
Em 12 meses até novembro, os combustíveis subiram, todos
eles, mais de 40%. No caso do etanol, a alta acumulada chegou a quase 70%. Já a
gasolina subiu 50% no período, segundo o IBGE. g1, com foto: Tony Winston/Agência Brasília
|