27/11/2021
Uso indiscriminado da ivermectina pode ser responsável por surto de sarna
SÃO PAULO, SP - A Ivermectina é um antiparasitário que foi
incluído no “Kit Covid” sem comprovação científica da sua eficácia contra o
vírus. O uso indiscriminado desse medicamento pode ter sido o motivo do surto
da escabiose, mais conhecida como sarna humana, que se alastra na Região
Metropolitana do Recife (RMR) e teve registro de caso em um bebê de dois meses,
no litoral de São Paulo. Mesmo comprovadamente ineficaz, alguns profissionais
continuam prescrevendo a substância. Enquanto outras pessoas tomavam por conta
própria, seguindo recomendações de alguns planos de saúde e dos integrantes do
"gabinete paralelo", que teria sido formado para aconselhar o
presidente Jair Bolsonaro. “Falar que a Ivermectina tem eficácia contra o vírus da
COVID-19 em seres humanos é um argumento que vai contra a ciência. A
ivermectina, assim como a cloroquina, possuem um mecanismo que em laboratório,
nos tubos de ensaio, deveria inibir a proliferação do vírus, mas não importa
que o mecanismo é plausível, não importa que funcione em tubos de ensaio, o que
importa é que foi testado em humanos e comprovado sua ineficácia no combate à
COVI-19. Argumentar por mecanismos e não por resultados é anticientífico”
ressalta o urologista José Carlos Souto. Assim como o médico, outros estudos e profissionais destacam
a ineficácia do antiparasitário e que seu uso em excesso pode trazer
consequências devastadoras. Um estudo realizado por pesquisadores da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL), publicado no dia 15 de agosto deste
ano, evidenciou que o abuso desse remédio pode ter desenvolvido a
superresistência do Sacorptes scabiei, ácaro responsável pela doença. Espalhados em Olinda, Jaboatão, São Lourenço, Camaragibe,
Paulista e Recife, os pacientes se queixam de uma intensa coceira intensa que
evolui para feridas e escoriações na pele. Esses ferimentos podem ser
penetrados por bactérias e desencadear infecções secundárias, podendo ser
leves, moderadas ou muito graves. E não é somente no Nordeste que os casos estão tomando
proporções preocupantes, no litoral de São Paulo também está tendo vários
relatos da escabiose, dos quais um bebê de 2 meses chegou a ser internado
devido à gravidade da contaminação. A dermatologista Soraya Neves, cooperada da Unimed-BH,
salienta que comprovado ou não a relação entre os surtos e o uso indiscriminado
da ivermectina, a doença pode causar aumento da mortalidade em crianças –
devido às infecções secundárias – além dos riscos à saúde da população em
geral. Além do aumento da dosagem e uso repetitivo da Ivermectina,
condições climáticas e socioeconômicas também podem ter contribuído para a
evolução do parasita. Por se tratar de uma condição extremamente contagiosa, é
essencial ficar atento aos hábitos de higiene, as pessoas que moram no mesmo
domicílio ou as pessoas com quem se convive. “Não adianta nada tratar só o doente em si e não tratar a
comunidade em que se vive, ou as pessoas com quem se convive. Também não
adianta fazer o tratamento, tomar remédios, usar pomadas, e não mudar os
hábitos de higiene”, explica a médica.
Para prevenir a escabiose, é necessário lavar as roupas,
passá-las, tomar banho diariamente, trocar e higienizar as roupas de cama. Já
para tratá-la, existem dois tipos de tratamento: o tópico, que consiste em
administrar o medicamento diretamente sobre a lesão cutânea, e o tratamento via
oral. Vale lembrar que um não exclui o outro, tudo vai depender do estado de
avanço da infecção. EM, com foto: Pixabay
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