22/09/2021

Prevent Senior omitiu Covid como causa das mortes de médico e da mãe de Luciano Hang



SÃO PAULO, SP - A Prevent Senior omitiu no atestado de óbito que o médico Anthony Wong, morto em 15 de janeiro deste ano em São Paulo, faleceu em decorrência de Covid. A operadora de saúde também não informou no documento que Regina Hang, de 82 anos, mãe do empresário Luciano Hang, dono da Havan, morreu em 4 de fevereiro após complicações relacionadas ao coronavírus. 

Os prontuários de Wong e Regina aos quais a TV Globo teve acesso, mostra que os dois foram internados no Hospital Sancta Maggiore, da Rede Prevent Senior, e acabaram medicados com o chamado 'kit Covid', série de medicamentos sem comprovação científica na prevenção ou tratamento da doença. 

A revista Piauí divulgou nesta terça-feira (21) reportagem para revelar que o pediatra e toxicologista Wong, que era defensor do tratamento precoce contra Covid, foi internado em 17 de novembro de 2020 no hospital após o médico apresentar sintomas de Covid-19 havia oito dias. 

"Um exame de PCR feito no hospital confirmou a presença do Sars-CoV-2'', informa trecho do documento das mais de 2 mil páginas do prontuário médico de Wong. 

Quando Wong morreu, o Sancta Maggiore não informou a causa da morte à imprensa. No seu atestado de óbito consta que a morte foi em decorrência de: choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus. 

A Piauí destacou que Wong autorizou ser medicado com o “kit covid” da Prevent Senior; e que o médico recebeu outros tratamentos como a inalação de ''heparina e metotrexato venoso'' - medicamentos sem eficácia comprovada para Covid. Além disso, o médico também o fez “20 sessões de ozonioterapia retal’’. E vinha "vinha fazendo uso de hidroxicloroquina''. 

Wong foi atendido durante a internação pela colega médica Nise Yamaguchi, que, segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, pertence ao chamado “gabinete paralelo” do governo federal. 

De acordo com os prontuários, Wong também recebeu a visita Pedro Benedito Batista, diretor-executivo da Prevent. Nesta quarta-feira (22) o executivo se recusou a informar a CPI a causa da morte de Anthony Wong. 

A GloboNews revelou que a Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19, segundo dossiê ao qual a reportagem teve acesso (saiba mais abaixo). O diretor da Prevent, Pedro Benedito Batista Júnior, negou nesta quarta-feira, durante a CPI da Covid, que tenha ocultado mortes. 

Hang 

O prontuário de Regina Hang, mãe de Luciano Hang, dono da empresa varejista Havan, mostra que ela foi medicada com o chamado ''kit covid'', com “azitromicina, hidroxicloroquina e outras medicações.” O Sancta Maggiore também não havia informado a causa da morte da idosa à imprensa à época. 

No quinto dia de internação, ainda segundo o prontuário, Regina passou por sessão de ozonioterapia, uma prática que é proibida pelo Conselho Federal de Medicina, exceto em pesquisas experimentais autorizadas pela comissão de ética em pesquisa e em instituições credenciadas. 

Segundo a Conep, não havia nenhuma autorização de pesquisa para a Prevent. Regina Hang morreu um mês depois de dar entrada no hospital, no dia 2 de fevereiro. 

Em um vídeo gravado pelo empresário Luciano Hang - filho de Regina - ele reafirma que a mãe morreu de Covid e lamenta o fato dela não ter feito um tratamento preventivo, antes de pegar o vírus, o que também não tem eficácia comprovada. 

Na certidão de óbito de Regina a Covid não aparece na causa da morte. No documento consta: disfunção múltipla de órgãos, choque distributivo refratário, insuficiência renal crônica agudizada, pneumonia bacteriana, síndrome metabólica e acidente vascular cerebral isquêmico prévio. 

Assim como no caso de Regina Hang, a Covid-19 não consta como causa morte de Anthony Wong. 

Prevent Senior ocultou mortes em estudo 

O plano de saúde Prevent Senior também ocultou outras mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19, aponta um dossiê ao qual a GloboNews teve acesso. 

A pesquisa foi divulgada e enaltecida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), como exemplo de sucesso do uso da hidroxicloroquina . Ele postou resultados do estudo e não mencionou as mortes de pacientes que tomaram o medicamento. 

A CPI da Covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent. O documento informa que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. Segundo o dossiê, o estudo foi um desdobramento do acordo.

G1, com foto: Montagem/g1

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