17/06/2021
BC eleva juros para 4,25% ao ano; medida freia inflação, mas dificulta recuperação da economia
BRASÍLIA, DF - O Banco Central (BC) subiu os juros básicos
da economia em 0,75 ponto percentual, pela terceira vez consecutiva. A decisão,
anunciada nesta quarta-feira (16) pelo Comitê de Política Monetária (Copom),
elevou a taxa Selic de 3,5% para 4,25% ao ano. A elevação foi deliberada de
forma unânime pelos integrantes do colegiado, que é formado por diretores do
BC, e era esperada pelos analistas financeiros.
Em comunicado, o BC indicou que deve seguir elevando a taxa
Selic na próxima reunião, marcada para os dias 3 e 4 de agosto. "Para a
próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização
monetária com outro ajuste da mesma magnitude. Contudo, uma deterioração das
expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução
mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação
também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de
como esses fatores afetam as projeções de inflação", informou o texto.
No comunicado, o Copom destacou que a pressão inflacionária
revela-se maior que o esperado, "sobretudo entre os bens
industriais". "Adicionalmente, a lentidão da normalização nas
condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do
cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a
inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real. O
Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos
secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os
efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos",
informou o comunicado.
Com a decisão de hoje, a Selic continua em um ciclo de alta,
depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016,
a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os
juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de
2018.
Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar
2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela
pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em
1986. Porém, a taxa começou a subir novamente em março deste ano, passando para
2,75%. Depois, em maio, subiu de novo, para 3,5%.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para
manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o indicador fechou no maior nível para o
mês desde 1996. No acumulado de 12 meses, o IPCA acumula alta de 8,06%. De
janeiro a maio deste ano, a inflação foi de 3,22%.
O valor está acima do teto da meta de inflação. Para 2021, o
Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado meta de inflação de 3,75%, com
margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Com isso, o IPCA não poderia
superar 5,25% neste ano nem ficar abaixo de 2,25%.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de março pelo
Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fecharia o
ano em 5% no cenário base. Esse cenário considera um eventual estouro do teto
da meta de inflação no primeiro semestre, seguido de queda dos índices no
segundo semestre. A projeção oficial só será atualizada no próximo Relatório de
Inflação, no fim de junho.
Já a projeção do mercado prevê uma inflação ainda maior,
acima até do teto da meta. De acordo com o último boletim Focus, pesquisa
semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial
deverá fechar o ano em 5,82%, na 10ª alta consecutiva da projeção.
Crédito mais caro
A elevação da taxa Selic ajuda a controlar a inflação. Isso
porque juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo.
Por outro lado, taxas mais altas dificultam a recuperação da economia.
No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava
crescimento de 3,6% para a economia em 2021, decorrente da segunda onda da
pandemia de covid-19. No Boletim Macrofiscal de Maio, divulgado no mês passado
pelo Ministério da Economia, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) para 2021 foi de 3,5%.
O mercado projeta crescimento maior. Segundo a última edição
do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 4,85% do PIB este
ano.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos
públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de
referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima,
o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque
juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e
incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para
cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços
estão sob controle e não correm risco de subir. Agência Brasil, com Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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