15/06/2021
Aumento nas bandeiras tarifárias das contas de energia elétrica deve ser superior a 20%
BRASÍLIA, DF - O diretor-geral da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, disse hoje (15), em Brasília, que a
decisão sobre o aumento no valor das bandeiras tarifárias deve ser tomada até o
fim de junho. Ele afirmou que o reajuste deve passar de 20%. Este será o primeiro aumento nos valores das bandeiras desde
2019. Em 2020, por conta da pandemia do novo coronavírus (covid-19), os valores
foram mantidos e a bandeira verde foi acionada de junho a novembro. O país vive a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, com os
reservatórios das bacias das principais usinas hidrelétricas em níveis muito
baixos. Por isso, houve a necessidade de acionamento de mais usinas
termelétricas. O acionamento das bandeiras tarifárias reflete o aumento no
custo da geração de energia no país. Desde março, a Aneel acionou o sistema de bandeiras
tarifárias que chegou em junho ao ponto mais alto - vermelha no patamar 2 - com
a cobrança adicional de R$ 6,243 para cada 100kWh (quilowatt-hora) consumidos. Redução Também em março, a Aneel abriu uma consulta pública sobre a
revisão dos adicionais e das faixas de acionamento para as bandeiras tarifárias
no período 2021/2022. A proposta da agência é de redução no valor da bandeira
tarifária amarela, que passaria R$ 1,343 a cada 100 kWh consumidos para R$
0,996. Já a bandeira vermelha 1 subiria de R$ 4,169 a cada 100 kWh
para R$ 4,599 para cada 100 kWh consumidos e a bandeira vermelha 2 aumentaria
de R$ 6,243 para R$ 7,571 para cada 100 kWh consumidos. “Hoje temos um custo de R$ 6,24 a cada 100 kilowatt hora
consumidos, mas certamente o valor final será bem maior do que R$ 7 e alguns
centavos, esse valor deve superar os 20%. A agência [Aneel] deve estar tomando
essa decisão ainda no mês de junho do novo valor das bandeiras para pagar as
térmicas”, afirmou Pepitone, durante audiência pública da Comissão de Minas e
Energia da Câmara dos Deputados para debater a crise hídrica no país. Medidas Principal fonte de energia elétrica do país, as usinas
hidrelétricas são responsáveis por pouco mais de 62% de toda a geração
elétrica, mas sofrem com o regime hídrico abaixo da média histórica. Há escassez de chuvas, especialmente nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste, onde se concentram as principais bacias hidrelétricas. O problema
atinge especialmente as bacias dos rios Parnaíba, Grande, Paraná e Tietê. Por conta desse cenário, o Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico (CMSE) decidiu, em maio, despachar fora da ordem de mérito todos os
recursos da geração termelétrica até dezembro. O custo desse despacho térmico
foi estimado pela Aneel em R$ 8,99 bilhões, dos quais R$ 4,3 bilhões já foram
usados no período de janeiro a abril de 2021. Segundo Pepitone, além do aumento nos valores das bandeiras
tarifárias, a medida vai ter um impacto médio nas tarifas de energia de 5%,
percentual que será repassado ao consumidor em 2022. “Só temos praticamente água para atender a geração de
energia do país até novembro. Até lá, teremos que atender os país com as
térmicas e isso tem um custo”, disse o diretor da Aneel. Além da geração térmica, outras medidas estão sendo adotadas
para evitar que os reservatórios das usinas hidrelétricas fiquem ainda mais
vazios. No dia 1º, a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento) decidiu
declarar emergência hídrica na Bacia do Paraná. A medida permite a limitação de
volumes de captação de água nos rios da bacia em caso de necessidade. Flexibilização O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS), Luiz Carlos Ciochi, disse, na mesma audiência pública da Comissão de
Minas e Energia da Câmara, que outras ações foram discutidas e apresentadas ao
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. A mais importante delas abrange a
redução na vazão das Usinas Jupiá e Porto Primavera e a flexibilização dos
reservatórios da cabeceira do rio Paraná, principalmente do reservatório da usina
de Furnas. De acordo com Ciochi, a expectativa é que a medida gere um
ganho de armazenamento de 3,8% do Sistema Interligado Nacional (SIN). “Não usaremos essas águas para a geração de energia elétrica
visando garantir a governabilidade de toda a cascata, para garantir que todos
os reservatórios tenham o mínimo de água”, disse. Outra proposta é a de reduzir o calado ou paralisar a
hidrovia Tietê-Paraná a partir de 1º julho. O ganho de armazenamento com a
redução do calado seria de 0,5% e a paralisação de 1,6% no SIN. Ainda há a
proposta de flexibilizar a operação dos reservatórios do rio São Francisco, com
ganho de 0,8% do SIN. Segundo Ciochi, mesmo com a adoção dessas ações, o nível
dos reservatórios deve ficar em 10% no fim do ano. “As ações vão permitir estocar água para outubro e novembro.
Se não adotarmos essas medidas chegaremos em 2022 em uma condição muito frágil
para atender a necessidade de energia do próximo ano”, alertou Ciochi.
O diretor do ONS disse, ainda, que essas medidas geram
impactos ambientais que estão sendo debatidos com órgãos como o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que
elas não vão gerar prejuízos para outros usos da água, como o para consumo
humano, irrigação e dessedentação (uso de água por animais). Agência Brasil, com Foto: Beth Santos/PR
|