15/01/2021
Criticada por Bolsonaro, China contribui com mais da metade do superávit comercial do Brasil; EUA contribuiu negativamente
O Boletim de Comércio Exterior (Icomex) divulgado, hoje
(15), pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(FVG/Ibre) aponta que o único resultado positivo em 2020 no setor foi o
superávit comercial. A análise foi feita diante do cenário de superávit da
balança comercial de US$ 50,9 bilhões, dos investimentos estrangeiros no país
de janeiro a novembro de US$ 33 bilhões e da previsão de recuo no Produto
Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) de 4,7%. Mesmo
positivo, o superávit comercial contribuiu para a queda do déficit em
conta-corrente em um momento de retração da entrada de capital no país. De acordo com o Icomex, a China contribuiu com US$ 33,6
bilhões no superávit, enquanto entre os principais parceiros a contribuição dos
Estados Unidos foi negativa. O saldo com a União Europeia foi positivo em US$
1,5 bilhão, no entanto, o valor é abaixo dos países da América do Sul,
inclusive Argentina, de US$ 6 bilhões, e do restante da Ásia. Na edição de dezembro, o boletim do Icomex estimava um superávit
de US$ 55 bilhões. A diferença entre a previsão e o fechamento, segundo o Ibre,
foi provocada por uma importação de US$ 4,8 bilhões de plataformas de petróleo,
que provocou um déficit na balança comercial de dezembro de US$ 41,6 milhões.
“Sem as plataformas, o superávit em dezembro seria de US$ 4,7 bilhões e a nossa
estimativa para o ano estaria correta”, diz o boletim. A análise destaca também que mesmo excluindo as plataformas,
as importações aumentaram na comparação interanual, o que também ocorreu no mês
de novembro. “Esse resultado sinaliza um movimento de ompras positivo e, logo,
de alguma melhora no nível de atividade”. Commodities O desempenho das commodities, na avaliação do Ibre, explica
os 66% do valor exportado em 2020, o que representa o maior percentual da série
histórica iniciada em 1998, quando foi de 40%. O valor das exportações de
commodities cresceram 0,5% de 2019 para 2020 e das não commodities recuaram
18,5%. Em volume, as commodities cresceram 7,4% e as não commodities recuaram
13,5%. Com o aumento de volume de 7,4%, o setor agropecuário foi
líder nas exportações brasileiras em 2020, explicada pelo aumento do volume das
exportações para a China (17%). A participação do país saiu de 28,1% para 32,3%
de 2019 para 2020. Os demais países da Ásia também registraram contribuição
positiva de 11,1%, e explicam 14,9% das exportações brasileiras. Ainda na comparação anual, todos os outros principais
parceiros recuaram nas exportações. No mês de dezembro repetiu-se o
comportamento do mês de novembro, quando foi registrado aumento das vendas para
a Argentina, demais países da América do Sul e outros países da Ásia. De 2019 para 2020, o volume importado teve queda em todos os
setores e a indústria extrativa registrou a maior queda, de 16,1%. Em dezembro,
a indústria de transformação foi destaque com variação positiva de 12,7% nas
vendas externas e aumento de 66,8% nas compras. “Aqui, no entanto, é preciso
descontar o efeito das plataformas [de petróleo]. Sem as compras de
plataformas, a variação foi de 21,2%”, diz o boletim. A queda nas importações puxada pela recessão do nível de
atividade influenciou o superávit da balança comercial, como também o aumento
nas exportações de commodities direcionadas para a China, que reduziu a queda
nas vendas externas em um ano de forte retração na demanda mundial, diz ainda o
Icomex. Previsões para 2021 O boletim indica que as incertezas relacionadas à pandemia
ainda não desapareceram dos cenários mundial e do Brasil, mas alguns pontos
sugerem condições positivas para as exportações brasileiras. O primeiro está
ligado à alta nos preços das commodities, que já começou a ser observado no
segundo semestre de 2020 e se refletiu na melhora dos termos de troca, a partir
de julho de 2020. “Os investimentos chineses demandaram compras de minério de
ferro e cobre. Ademais, os preços de alguns alimentos como soja, carne, e de
trigo, cresceram com retrações de oferta devido a secas e os efeitos que ainda
perduraram da crise suína na China”. Ainda conforme a análise, há um certo grau de sincronização
de pacotes fiscais expansionistas na Europa, Estados Unidos e China, que
sustentam o aumento da demanda. Para o Ibre, a posse de Joe Biden na
Presidência dos Estados Unidos poderá intensificar as políticas expansionistas
e, assim, provocar o enfraquecimento do dólar, que costuma ser acompanhado do
aumento dos preços de commodities.
“O aumento de preços das commodities é uma boa notícia para
o Brasil. A melhora nos termos de troca associada aos preços de commodities
ajuda as exportações brasileiras de manufaturas com os parceiros sul-americanos
exportadores de commodities. No entanto, para que o Brasil continue sendo um
dos líderes nas vendas de commodities, especialmente agrícolas, o governo deve
priorizar sua política ambiental e climática”, recomenda o Ibre. Agência Brasil
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